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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Quem são os JOVENS de hoje


A palavra "juventude", geralmente, remete a descobertas, beleza, alegria, vivacidade, entre outros aspectos positivos. Jovens se organizam em grupos, sua linguagem é única e a busca pela novidade é constante. Se por um lado possuem tantas características boas, por outro vivem uma realidade preocupante. É nesta faixa etária – dos 15 aos 29 anos – que se encontra parte da população brasileira atingida pelos piores índices de desemprego, evasão escolar, falta de formação profissional, mortes por homicídio, envolvimento com drogas e criminalidade. Segundo dados do Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 47,8 milhões de habitantes entre 15 e 29 anos, dos quais 34 milhões têm entre 15 e 24 anos. Os estudos apontam que pelo menos cinco milhões de jovens estão dentro das igrejas, o que forma um contigente populacional considerável. E é justamente este grupo que vem representando um desafio à igreja evangélica.

A evangelização, o fortalecimento da fé e o amadurecimento da vida cristã entre os jovens preocupa boa parte da liderança. Ela não os vê comprometidos com o Evangelho integral e não os considera uma geração bíblica, reconhecendo que muitos são resultado da Teologia da Prosperidade e da chamada geração gospel. Pastores como Marcelo Gualberto, um dos líderes do ministério Mocidade Para Cristo (MPC) – movimento que fez e faz história entre a galera jovem – é fatalista ao dizer que a atual juventude “é quase uma geração perdida”.

Os jovens, por sua vez, acusam a igreja de ser desconectada da realidade, obsoleta, permanecendo como uma “religião velha num mundo novo”. Afirmam que os cultos são desinteressantes, demorados e desatualizados. Reclamam ainda da hipocrisia, das proibições dogmáticas, das cobranças e do autoritarismo.

Em um ponto, os dois lados concordam: é necessário repensar a evangelização e o discipulado de tal forma que a igreja possa oferecer conteúdo teológico mais comprometido com as Escrituras. Como reflexo da pós-modernidade, crescem a oferta e a procura por uma espiritualidade light, mais parecida com terapias psicológicas e harmoniosas. Jovens modernos estão à procura de sentido e emoção que estão além dos limites tradicionais que a religião é capaz de oferecer. A globalização, segundo estudiosos, força a religião a ficar mais difusa, eclética, buscando responder aos que estão preocupados com saúde, desequilíbrio psíquico, ameaça à biosfera, etc. E o atual panorama sociocultural, imerso no capitalismo, estimula os jovens ao prazer egocêntrico, levando-os mais e mais ao individualismo exagerado e cruel.

DE QUEM É A CULPA?

A influência do movimento gospel sobre a geração que veio após a década de 70, segundo Gualberto, trouxe mais malefícios do que benefícios. “Essa ditadura do louvor comercial criou uma geração distante da Palavra, que não tem tempo (nem desejo) de ler a Bíblia. É quase uma geração perdida”, lamenta.

O presidente da Missão Jovens da Verdade – outro ministério relevante entre a juventude –, pastor Jasiel Botelho, coloca a culpa na liderança pelo desconhecimento bíblico dos rapazes e moças de hoje. Ele critica: “Os líderes priorizaram o louvor, e não a Palavra. Por causa da Teologia da Prosperidade, não se vê mais pregações sobre as conseqüências do pecado, a importância da cruz, o valor da ressurreição, do significado do Pentecostes”.

Fabrício Cunha dos Santos, que faz parte da nova safra de líderes da juventude brasileira, avalia que o grande dilema ocorre porque a igreja continua com a mesma mentalidade de trinta anos atrás, não percebendo, por exemplo, que na década de 60 e 70 a única tribo existente era a dos hippies. Hoje, existem mais de duas mil tribos, segundo o IBGE. “É uma igreja que se identifica mais com minha avó de 80 anos do que com meu primo de 18”, alerta. A mensagem, segundo ele, só irá atingir os jovens quando a liderança da igreja passar a pregar o Evangelho sabendo analisar o contexto social. “Ao entender quais são as demandas, as crises, as inquietações do nosso tempo, teremos condições de tornar o Evangelho relevante. Reconhecemos que o jovem está desinteressado pela religião; entretanto, nunca houve tamanho interesse pelo espiritual, pelo sagrado”, opina.

O coordenador regional do Conselho Latino Americano de Igrejas (Clai-Brasil), Thiago Machado da Silva, concorda com Santos. Para ele, o que dificulta a evangelização deste segmento não é o fato de o jovem usar piercing, ter tatuagem ou gostar de rock, mas sim o discurso atrasado de muitas lideranças. A igreja, de acordo com ele, precisa aprender a debater os questionamentos dos jovens, e não apenas proibir.

Outro líder de expressão entre os jovens é Marcel Steunargel. Sua percepção é de que a igreja tem estado mais preocupada com o crente bem-sucedido – que tenha carro, boas roupas e outros indicadores de bom nível econômico e social. “O discurso cristão hoje não ensina o jovem a pensar sua fé de maneira sincera e profunda. Se o jovem não entra no esquemão ‘louvor sentimental-roupa arrumadinha-sorriso no rosto’, é marginalizado”, alerta. O reflexo dessa falta de conteúdo, segundo o seminarista presbiteriano Diego Belomo – que criou uma rede na internet para discutir teologia jovem – é que “parte dos jovens não liga a mínima para a fé em Jesus. Eles têm apenas um grupo, um gueto social onde estão imersos e cumprem regras. Repetem ações e palavras para se tornarem parte do grupo.”

O descompasso entre liderança/igreja e juventude também se reflete quando o assunto é sexualidade, tema de grande tensão no meio evangélico. Apesar da orientação contra a prática do sexo pré-matrimonial, uma pesquisa com cinco mil jovens crentes feita pela revista Lar Cristão apontou que 52% deles mantinha relações sexuais antes do casamento. É acerca dessa questão que o pastor Gualberto diz que não dá para compactuar. “Dá para negociar tatuagem, brinco em homens, horário para chegar em casa. Mas sexo antes do casamento é pecado. Não podemos modificar as verdades bíblicas”, afirma. Cumprir o que se orienta nem sempre é fácil, porém. Que o diga Wesley Maciel Pardinho, 21 anos, da Igreja Missão Evangélica Vivendo em Cristo. Noivo há quase dois anos, ele se mantém virgem, esperando o grande dia. “É uma luta difícil e constante contra o desejo. Faço isso porque vale a pena ser fiel”, garante.

ESTRATÉGIAS “DA HORA”

Mesmo diante de tantas dificuldades e desafios, há projetos e experiências que estão no caminho certo. Trabalhos como o da JUVEP, que arregimenta jovens para estágios missionários no interior do Nordeste, é um exemplo. Há também o “JV na Estrada”, que viaja pelo Brasil levando o Evangelho de forma contextualizada e alegre. Outro bom modelo é o adotado pelo Ministério da Comunidade ARCA – Caverna de Adulão – que atua entre tribos undergrounds, vestindo-se e falando como eles. Trabalho bem-sucedido tem sido a Usina 21. Seu coordenador, Marcos Botelho, explica que desenvolveu um evangelismo relacional em que jovens são atraídos pelo que mais gostam – esportes, música eletrônica, hip-hop, dança, etc. Ele declara: “Entendemos que é nossa essência que precisa de santificação. Combater o pecado não é separar-se da sociedade, e sim unir-se ao Espírito Santo”.

Outros projetos investem na evangelização de universitários. André Godoy, líder do ministério Impacto, avalia que esse público, apesar de arredio à mensagem do Evangelho, está sedento. “Como há muito preconceito, fazemos uma abordagem dinâmica e informal”, diz Godoy, reconhecendo que o trabalho tem rendido bons resultados.

Igrejas pequenas têm criado estratégias bem elaboradas. Muitas planejam acampamentos e programações simples, mas inteligentes, e trabalham com grupos pequenos a fim de criar vínculos e identidade entre os jovens. “Tem dado certo porque mesclamos interesses jovens ao conteúdo bíblico”, ressalta Pardinho.

DEUS UTILITARISTA

São muitas as diferenças entre os jovens das décadas de 70 e 80 e a atual. Segundo muitos líderes, a juventude de trinta anos atrás era mais politizada – contestava a guerra, a ditadura. É consenso que há hoje uma desmotivação pela política. O legalismo nos usos e costumes da igreja foi outra influência que marcou a geração passada. Mulheres de calças compridas e homens de barba ou cabelos compridos, se não proibidos, eram duramente repreendidos por pastores.

No campo teológico, aconteceu a substituição da verdade do Evangelho pela oralidade musical e pela pregação de um deus utilitarista. Mesmo em relação à sexualidade, que ainda é polêmica, Botelho avalia que houve avanço de uma geração a outra. “Continuamos reafirmando que sexo antes do casamento é pecado. Mas hoje, se uma adolescente engravidar, ela não será excluída da igreja”, enfatiza.

A liderança das décadas passadas, por sua vez, era mais preconceituosa quanto à competência dos jovens em atuar à frente de ministérios. Em qualquer igreja, nos dias atuais, encontra-se um jovem no comando de um ministério local. “Éramos uma geração bíblica e com boa doutrina, mas não saíamos às ruas como a moçada de hoje. Atualmente, há evangelismo, mas não boa doutrina”, contrapõe Botelho.

ENCARANDO OS DESAFIOS

Na busca de resgatar e fortalecer a essência do cristianismo, alguns líderes estão organizando o I Fórum Jovem de Missão Integral, que acontecerá em junho de 2007. Fabrício dos Santos explica que essa é uma tentativa de influenciar a igreja hoje, como aconteceu com o Pacto de Lausanne em 1974. Na ocasião, o encontro impactou de forma positiva toda a igreja na América Latina ao enfatizar a missão integral, que leva em conta o homem como um todo – corpo, alma e espírito – aliado à ação social. “Naquela época, surgiram muitas instituições de trabalho humanitário no ambiente da igreja evangélica, além dos ministérios especializados em ação social. Com a entrada da Teologia da Prosperidade, o Evangelho da missão integral perdeu força. Com esse seminário, queremos tornar a missão integral um assunto comum no ambiente do ministério dos jovens, ver se multiplicar esse tipo de pregação”, informou.

O grande desafio da evangelização de jovens, para Daniel Dantas, secretário da Fraternidade Teológica Latino-Americana no Brasil, é vencer o multiculturalismo (segundo o Dicionário Michaelis, “prática de acomodar qualquer número de culturas distintas, numa única sociedade, sem preconceito ou discriminação”), ressaltando que tornar o Evangelho atraente é muito perigoso porque pode significar um convite ao sincretismo religioso. Dantas acha que o conteúdo da pregação não pode ser mudado. A forma de transmiti-la é que deve ser repensada.

Para Steunargel, como a atual geração de jovens cresceu com muito mais informação, para falar a eles é necessário dinamismo, separando o que é estilo e cultura do que é Evangelho. E aconselha: “É preciso re-traduzir o Evangelho para várias novas linguagens”. Gualberto observa que existem dois caminhos: uma reforma ou a volta de Cristo brevemente. Fatalista, ele não vê solução a médio prazo. “Em meio a esse caos, a solução é voltar a pregar a Palavra de Salvação e investir nos pré-adolescentes”, adverte.

O sociólogo Alexandre Brasil, em seu artigo “O jovem e a religião – em busca de uma nova gramática”, ressalta que as religiões representam um espaço obrigatório para se procurar um diálogo. Ele lembra que existe uma massa de jovens organicamente constituída e que, em boa parte, encontra-se alienada do processo de discussão de políticas públicas: “As religiões precisam fazer a lição de casa, visando maior agilidade nesse diálogo/processo para a inclusão”. E vai caber aos líderes de adolescentes de hoje administrar toda essa demanda de perdas e ganhos para que os jovens do futuro possam assumir o posto inquestionável de geração eleita.

TRADUZINDO EM NÚMEROS

Dos 15% dos jovens que afirmaram participar de algum grupo religioso na pesquisa do Projeto Juventude, do Instituto da Cidadania, que ouviu 3,5 mil jovens, em 2003:

4% disseram que faziam parte de grupos jovens da igreja.
1% dos jovens afirmou ser ateu, e o temor a Deus foi um dos valores mais apontados.
65% se declararam católicos,
22% evangélicos,
15% pentecostais e
5% pertencentes a outras igrejas (Testemunhas de Jeová, Mórmons, Legião da Boa
Vontade – LBV, religiões afro-brasileiras e espíritas).
11% se consideraram sem religião e
10% disseram acreditar em Deus embora não seguissem uma religião.

SAIBA MAIS
Para a ONU, jovem é o que tem idade entre 15 e 24 anos.
O IBGE tem a mesma interpretação.
O CLAE considera jovens os que estão na faixa etária entre 18 e 30 anos.
Já o governo federal, na zona rural, aceita incluir o indivíduo que possui até 32 anos em alguns programas sociais.


Por Rose Guglielminetti

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